quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Desenrolando 2012

Já estamos planejando nossos encontros para 2012! Agendem-se!

Seguem as datas e os filmes que discutiremos:

04/02  -  Minhas tardes com Margueritte

10/03  -  Nenhum a menos

14/04  -  Preciosa

19/05  -  A culpa é do Fidel

16/06  -  O dia em que eu não nasci


Desejamos um Natal maravilhoso e um ano de 2012 cheio de aprendizagens, boas discussões e novas descobertas.

Desenrolando a Fita

Um doce olhar


Este filme silencioso e contemplativo mostra uma comunidade onde há pouca fala mas não parece haver falta de comunicação.
Nos leva a um exercício de escuta e de ESPERA, tão pouco celebrado no ritmo de vida levamos.
Yussuf, o protagonista, se mostra absorvido pelas coisas que fazem parte de seu cotidiano, o que é típico nas crianças da sua idade. Seu olhar é eloquente e ele tem uma relação próxima e terna com o pai. Falam pouco e por sussurros, no entanto o pai alimenta seus sonhos e fantasias.
Na escola, tradicional e aborrecida, ele tem dificuldades de leitura. Decora uma história esperando que o professor peça para que ele leia, porém a leitura pedida é de um texto para a qual ele não estava preparado. O professor não o critica e não parece estar decepcionado, mas tampouco faz qualquer intervenção para ajudá-lo com seus problemas.
Yussuf demonstra ter algo mais além do problema de leitura. Na escola, na hora do intervalo ele não vai para o pátio e não brinca com outras crianças, permanecendo isolado. Pensamos que talvez a pouca fala e a pouca interação no ambiente familiar talvez tenha tido influência no surgimento de suas dificuldades.
Quando o pai desaparece, sua relação com a mãe, que passa desapercebida no início do filme, aparece mais forte.
As pessoas se apoiam com sua presença silenciosa. A comunidade tem comportamentos quase que medievais, o que fica mais evidente na festa onde a mãe de Yussuf vai procurar pelo marido.
O final é angustiante, com Yussuf correndo atrás da águia como se ela fosse levá-lo onde está seu pai.
Este filme Turco/Alemão é parte de uma trilogia que mostrará várias fases da vida de Yussuf.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Desenrolando a Videoconferência!!

Pessoal, uma novidade no nosso próximo encontro: vamos estar conectados e quem quiser assistir e participar do Desenrolando a Fita pela Internet, poderá se conectar via skype. Lembrando que será no próximo sábado, dia 19/11, as 16:00 hs.

Até lá!!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Desenrolando o II Simpósio ABPp

O Desenrolando a Fita participou dia 4/11 da Comunicação Oral no II Simpósio ABPp de Psicopedagogia - UNIFIEO em Osasco, SP!


 

Com o título "O cinema na formação do psicopedagogo", foram apresentados os objetivos do grupo e o trabalho desenvolvido em 2010 com a discussão e reflexão sobre alguns filmes.

Houve muita interação da audiência!

Abaixo, segue o texto enviado para a organização do Simpósio.

 






O cinema na formação do psicopedagogo


 Durante discussões sobre a ampliação da formação do psicopedagogo, surgiu o grupo Desenrolando a Fita, composto de estudantes e profissionais da Educação, Psicopedagogia e Psicologia.

O objetivo do grupo é a reflexão sobre temas relacionados ao aprender nos dias atuais a partir do cinema. A Psicopedagogia deve buscar a compreensão do processo de aprendizagem humana por meio dos recursos que a contemporaneidade nos oferece, numa visão multidisciplinar.

Para ampliarmos essa visão, recorremos a Morin (2000), que assinala um ponto de vista do qual o grupo Desenrolando a Fita compartilha plenamente: o cinema é a arte capaz de possibilitar a aprendizagem que supera a indiferença sobre o ser humano, pois diante da realidade complexa o cinema propicia o conhecer do outro e de si. 

Fernandez (2000) assinala, do ponto de vista psicopedagógico, que o impacto da imagem parece ter mais força de veracidade que a palavra. A palavra, por sua vez, proporciona espaço para a pergunta. Portanto a discussão que realizamos no grupo Desenrolando a Fita, após assistirmos ao filme, conduz a indagações e apropriações de novas aprendizagens. Estes encontros geraram também um blog onde podemos registrar algumas de nossas ideias e compartilha-las na Internet (www.desenrolandoafita.blogspot.com).

Em acordo com Fernandez (2000), pontuamos que na formação do psicopedagogo “necessitamos dar lugar na concepção psicopedagógica às mudanças subjetivas produzidas pelos objetos telemáticos e sua incidência na aprendizagem, sustentando-nos na força do pensamento crítico, tratando de humanizar a tecnologia“ (p. 266).

Dessa forma, a complexidade do mundo pós-moderno no que tange particularmente à educação demanda que se busquem caminhos múltiplos para a formação continuada. Podemos perceber que a partir dos nossos encontros, discussões e produções, ampliamos e aprofundamos temas atuais e relevantes para a atuação do profissional da Psicopedagogia.


Referencias bibliográficas


FERNANDEZ, A. El televisor como enseñante Psicopedagogia em Psicodrama: habitando el jugar. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2000.
MORIN E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília: Cortez, 2000.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um doce olhar


Dia 19/11, as 16:00 hs, o grupo Desenrolando a Fita voltará a se reunir para discutir o filme "Um doce olhar". Este drama Turco/Alemão de 2010 premiado com o Urso de Ouro em Berlim no mesmo ano, traz a história de Yussuf, um menino que vive em torno do pai, apicultor, e que enfrenta problemas na escola na aprendizagem da leitura e da escrita.
O título original do filme é "Bal" que quer dizer "mel" em turco - já temos a dica para nossos comes!
Lembramos que temos de assistir o filme antes do encontro.
Esperamos todos lá! Um grande abraço!

Desenrolando a Fita

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um sonho possível



Quem apostaria neste adolescente?

Quantos jovens poderiam mudar suas vidas com uma oportunidade?

Vamos conversar sobre a transformação na vida dessas pessoas, que se encontraram por acaso (será?) e o quanto a escola e a educação podem mudar destinos.

Próximo encontro do Desenrolando a Fita: 08/10 as 16:00 hs.

Até lá!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nova data!

Será no próximo sábado, 17/9 as 16:00 hs, o encontro para discutir o filme "Em um mundo melhor".

Progamem-se!!!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Desenrolando a violência!


É amanhã!
Vamos discutir o filme "Em um mundo melhor" que trata da violência em diversos âmbitos e de como não sucumbir a ela.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Desenrolando Truffaut - Os Incompreendidos



Os Incompreendidos
Título Original: Les Quatre Cents Coups
Gênero: Drama
País: França
Ano de Produção: 1959
Tempo de Duração: 94 minutos
Direção: François Truffaut
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble, Georges Flamant, Patrick Auffray




Impressiona a atualidade de alguns aspectos deste belo filme de Trauffaut, seu primeiro longa metragem que lhe garantiu aos 27 anos o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. 

Embora o contexto fosse outro - uma França no período pós guerra e o status da infância muito diferente do atual - o fato é que se evidencia a estigmatização de alunos que acabam por tornar-se alvo das críticas de professores e que ocupam um lugar de descrédito de onde parecem não conseguir sair. Antoine Doinel busca existir numa família e numa escola onde não cabe. O padrasto o tolera e a mãe o despreza.

Na escola para meninos, autoritária e repressora, a necessidade de extrapolar aparece nas pequenas indisciplinas, nas gozações feitas às costas do professor, no poema escrito na parede, nas mentiras. Antoine torna-se o bode expiatório da turma, alvo dos destemperos do professor quase caricato. Mostra-se ingênuo em suas leves inclinações deliquentes: copia por engano o nome do amigo na tentativa de falsificar um bilhete e decide devolver o fruto de um roubo quando não consegue vendê-lo.

Os momentos bonitos e hilários ficam por conta da sincera amizade entre Antoine e René, negligenciado como ele, e nas fugas de Antoine, escondido pelo amigo em uma gráfica e em sua própria casa.

O filme é autobiográfico e Truffaut traz cenas de sua primeira adolescência. O filme foi inovador na forma como foi conduzido e na temática, buscando romper com a "tradição de qualidade" presente no cinema francês da época que o diretor criticava veementemente.


A cena final do filme deixa uma dúvida: o olhar de desespero de Antoine quando na fuga do reformatório encontra pela primeira vez o mar significa a morte, o fim da linha? Talvez sim. Ou talvez tenha sido a morte de Antoine para a infância frente aos dissabores.


A negligência e o abandono é o aspecto que nos pareceu mais presente. Vivemos um momento em que as instituições, a família entre elas, buscam rever seu papel numa sociedade de intensas mudanças. Transferem-se responsabilidades para outras esferas - escola, estado. Por vezes, fica enfraquecido o vínculo parental que se traduz em falta de contato, de limites e de esforço que a educação demanda.



Participantes:
Alcione M. Marques- Instituto Sedes Sapientiae
Jandira P. C. Melo – Instituto Sedes Sapientiae
Wolney Cândido Melo - Atitude Educacional
Mediação: Ms. Elisa Maria Pitombo- Instituto Sedes Sapientiae 

Desenrolando o Ano

Programem-se para os próximos encontros do Desenrolando a Fita:

10 de setembro  - filme: EM UM MUNDO MELHOR

8 de outubro      - filme: UM SONHO POSSÍVEL

19 de novembro - filme: UM DOCE OLHAR


domingo, 5 de junho de 2011

Próximo encontro do Desenrolando a Fita

Convidamos todos para nosso próximo encontro dia 18/06, sábado, as 16:00 hs. do consultório da Elisa. O filme que discutiremos é "As melhores coisas do mundo", filme nacional que trata sobre as questões da adolescência e a escola.
Os petiscos dessa vez serão brasileiros, em homenagem a origem do filme!
Nos vemos lá!

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Onda


A Onda
Título Original: Die Welle
Gênero: Drama
País: Alemanha
Ano de Produção: 2008
Tempo de Duração: 107 minutos
Lançamento na Alemanha: 13/03/2008
Lançamento no Brasil: 08/2009
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel e Peter Thorwarth, baseado no livro de Todd Strasser
Elenco: Jürgen Vogel (Rainer Wenger), Frederick Lau (Tim Stoltefuss), Max Riemelt (Marco), Jennifer Ulrich (Karo), Christiane Paul (Anke Wenger), Jacob Matschenz (Dennis), Cristina do Rego (Lisa), Elyas M’Barek (Sinan), Maximilian Vollmar (Bomber) e Max Mauff (Kevin)

Sedes Sapientiae

Simpósio do Departamento de Formação em Psicopedagogia

Desafios frente às violências: intervenções na interface

Educação/Saúde

Maio 2011

Comunicação oral

PSICOPEDAGOGIA E CINEMA: o filme A ONDA 

            Apresentamos reflexões psicopedagógicas sobre o filme A onda, de Dennis Gansel, baseado em fato real ocorrido em 1967, em escola secundária norte-americana localizada em Palo Alto, na Califórnia, Estados Unidos. Antes de virar filme ambientado na Alemanha, a história foi romanceada em livro. A intenção inicial do professor que viveu essa experiência na vida real era de que o curso fizesse parte do currículo da escola, a fim de que servisse de objeto de reflexão e ainda prevenisse contra a onda nazifascista iniciada no final da década de 30.
A onda traz a seguinte trama: Rainer Wenger, professor, deve ensinar seus alunos sobre autocracia, depois que o curso sobre anarquismo, seu tema de predileção, é assumido por outro professor. Devido ao desinteresse dos alunos e à sua própria falta de histórico nas aulas sobre esse tema, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo de alunos, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de "A onda", nome votado pelos alunos. Em pouco tempo, os alunos começam a aderir às propostas do professor, voltadas para o poder da unidade, e a ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wenger decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e "A onda" já saiu de seu controle.
O discurso final, proferido pelo professor Ross na primeira versão do filme feito nos Estados Unidos em 1981:
“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazifascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’”. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos? Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.
Do ponto de vista psicopedagógico, devemos nos fazer algumas indagações: Como desenvolver a autonomia do pensar e conhecer frente à massificação, ao fanatismo e à intolerância do ser humano? Como lidar com as situações de ensino-aprendizagem em grupos atraídos pela massificação de consumo: aqueles que se veem como iguais, com códigos próprios, o que os leva a atos de rejeição aos “mais fracos” ou “diferentes”?
A animosidade do grupo com as pessoas que decidem não usar o uniforme, a agressão física do namorado frente às críticas que a protagonista faz ao movimento e a cena final, quando o aluno que se levanta no auditório contra A Onda é imobilizado, são algumas situações de intolerância dos membros do movimento. Atos de violência do grupo de jovens, no filme, nos levam a pensar sobre que aspectos psicopedagógicos?
O filme “A Onda”, segundo Lima (2011), constitui-se numa metáfora correspondente a vários movimentos marcados pela presença de um líder carismático, sejam os Carecas do ABC paulista e os grupos de skinheads espalhados pelo mundo, entre vários outros. Nesses movimentos de líderes de poder autoritário e carismático, há sempre um chamado aos jovens para pertencerem a uma causa alheia aos interesses imediatos dos adolescentes. .      
A massificação, o fanatismo e a intolerância ao ser humano são a tônica desses movimentos, representados no filme pelos jovens de camisa branca que não têm autoria de pensamento, cuja identidade pessoal é arrebatada pela massificação do grupo.  Os alunos desprezam o diálogo e se sustentam pelo argumento da emoção.
O filme nos leva a refletir sobre a perda de liberdade do “sujeito” que, do ponto de vista psicopedagógico, lemos com a falta da autonomia de pensar. No grupo retratado pelo filme, há massificação de pensamentos, com o predomínio de ordens e de ações. Em contrapartida, temos nos dias de hoje a massificação de costumes ditada pela mídia eletrônica e digital. Como ficam os sujeitos diferentes?  Submetendo-se incondicionalmente ao poder do grupo, com palavras de ordens ditadas por vezes pelas de redes sociais, em direção a uma ação automática de subserviência absoluta, fazendo desaparecer o sujeito autônomo que pensa e cria.
Eco (1995), ao discutir em artigo a nebulosa nuvem fascista que paira sobre o mundo atual, ressalta os sintomas da ascensão do irracional humano nos grupos nazifascista que pregam algum tipo de supremacia. Cita o fundamentalismo religioso (cristão, islâmico e judaico), como também ações criminosas vinculadas ao narcotráfico e ao terrorismo de grupos ou de Estado, com ausência de um projeto politico. O autor ainda assinala três sintomas: o desprezo pelo diálogo, o ato pelo ato, o argumento pela emoção e não pela razão. Para ele é justamente “a ação pela ação” e a “luta pela luta” que caracterizam muitos movimentos sociais da atualidade com traços fascistas.
Perante essas colocações, enquanto profissionais voltados para as questões psicopedagógicas, faz-se urgente refletirmos e, sobretudo, estarmos informados a respeito de tendências que destituem a autonomia do pensar e do conhecer, em favor de uma liderança carismática que venha aparentemente suprir necessidades individuais e grupais, com um chamado de igualdade e de um novo sentido existencial no mundo.

LIMA, Raymundo “ ‘A onda’ e o irracionalismo dos grupos”.  Disponível em  www.espacoacademico.com.br
ECO, Humberto. “A nebulosa fascista”. Disponível em www.biblioteca folha.com.br

Participantes:
Alcione M. Marques- Instituto Sedes Sapientiae
Cristina Maria Souza Monteiro - UNIP
Maria Paula Parisi Lauria – Instituto Sedes Sapientiae
Mediação: Ms. Elisa Maria Pitombo- Instituto Sedes Sapientiae





domingo, 22 de maio de 2011

Como estrelas na Terra, toda criança é especial



Como estrelas na Terra, toda criança é especial
Índia, 2007 - 165 min.
Direção: Aamir Khan
Roteiro: Amole Gupte
Produção: Aamir Khan, B. Shrinivas Rao, Kiran Rao
Elenco: Darsheel Safary, Aamir Khan, Tanay Chheda, Sachet Engineer, Tisca Chopra, Vipin Sharma
Fotografia: M. Sethuraaman (Setu)
Edição: Deepa Bhatia
Música: Shankar Mahadevan, Loy Mendonsa, Ehsaan Noorani
Estúdio: Aamir Khan Productions


Era uma vez um menino que gostava de peixes pequeninos, tintas coloridas e pequenas inutilidades encontradas pelo caminho. Esse menino olhava para as letras e elas dançavam, concentrava-se nos números e eles ganhavam vida e viravam personagens. Seus cadernos eram plenos de marcas vermelhas; sua letra, quase um hieróglifo; suas provas, divertimento para os cachorros de rua; sua fama, de burro, distraído e vagabundo.
Essa é a história de Ishaan Awasthi, um menino indiano de 9 anos retratado no filme “Toda criança é especial”: um caso típico de dislexia, mostrado em toda sua trajetória, do fracasso à superação, com a mediação fundamental de um verdadeiro educador e toques de tinta bollywoddianas.
Produzido e dirigido por Aamir Khan, que também atua no filme como o professor Ram Nikumbh, que enxerga no infeliz Ishann algum potencial escondido e o leva a sair do lugar de fracassado, o filme foi lançado em 2007, com o título original “Taare Zameen Par – Every child is special”. Por retratar uma trajetória muito humana, basear-se em história real e ser bem fundamentado quanto aos sintomas e aos tratamentos da dislexia, o filme abriu o ciclo de encontros mensais do grupo Desenrolando a fita, composto por profissionais em formação nas áreas de Psicopedagogia e Psicologia, cuja intenção é debater temas oriundos de filmes exibidos no circuito comercial ou não.    
            Uma das primeiras impressões a respeito da personagem principal do filme Como estrelas na Terra, toda criança é especial, o garoto Ishaan, é a de que ele não cabia no cenário, tanto literalmente (em certos takes em que sua cabeça parecia enorme e ele mesmo soava desproporcional em relação ao ambiente em que estava) como também simbolicamente, deslocado daquilo que o espaço impunha como limites.
            Muito mais ligado à mãe, o menino era regido pelo princípio do prazer e não pelo princípio da realidade ─ manifesto no filme pelo pai ausente ─ o que parece ser um dos motivos pelos quais não consegue aprender. Há uma grande facilitação da mãe, que faz algumas atividades por ele, levando-o a ter dificuldades com coisas simples, como amarrar os sapatos ou vestir-se. A mãe, bastante cuidadora, apesar de seus esforços, não oportunizou a aprendizagem e não exerceu o papel regulador nessa dinâmica familiar marcada pela ausência do pai. Não foi, em linguagem winnicotiana, a mãe "suficientemente boa".
            Há sinais de prosperidade nessa família indiana, um reflexo do desenvolvimento econômico do próprio país: os filhos que estudam em uma escola elitizada, o pai que se prepara para a batalha diária no mundo do trabalho, o filho que joga tênis e é instigado a ser competitivo. O pai é um workaholic, inserido no sistema produtivo em busca da ascensão econômica. Entretanto, Ishaan está deslocado no interior desse grupo familiar. Parece um ponto fora da curva, o que se evidencia em cenas como a do sonho do trem (a estação está lotada, a mãe sobe no trem e ele não consegue entrar no vagão) e no flip-book em que retrata sua família e vai mostrando seu afastamento dela.
             Diante dos sucessivos fracassos na escola em que estuda, localizada em Bombaim, o pai de Ishaan decide matriculá-lo em outra escola, tida como linha dura, ainda mais normatizadora. O lema desse colégio interno, Nova Era, é segundo o diretor “domar cavalos selvagens”.
            O ingresso nessa escola é entendido como castigo por Ishaan. Quando conhece o único amigo no novo colégio, questiona-o sobre os motivos de estar lá, o que teria feito de errado para seus pais o mandarem para aquela escola.
            A postura opressora da escola, o evidenciamento do erro e do fracasso e o afastamento dos pais faz com que Ishaan fique cada vez mais deprimido. Não se comunica, não come, se nega a conversar com a família e finalmente para de pintar, o que sempre gostou de fazer.
O surgimento do professor de artes substituto, com uma abordagem muito diversa daquela dos professores do colégio, muda a vida de Ishaan e de toda a escola.  A competição de pinturas proposta por ele foi um marco da mudança na cultura da escola: essa atividade artística pôde incluir alunos e mesmo alguns professores, que tiveram a oportunidade de lidar com atividades sobre as quais não tinham domínio.
É verdade que houve, no filme, uma evolução rápida do garoto a partir das intervenções psicopedagógicas do novo professor, acostumado a lidar com crianças com necessidades especiais. O filme deu mais ênfase ao sofrimento de Ishaan que ao processo de transformação que passa a partir do olhar desse professor. Ainda assim, é bastante didático ao mostrar o quanto a escola ainda está despreparada para lidar com alunos que apresentam formas e ritmos de aprendizagem diferentes dos da maioria.
Entra em cena, portanto, a dislexia, que vinha manifestando já nos primeiros anos escolares sem que ninguém se desse conta desse distúrbio.
Cabe ressaltar que nem sempre uma criança disléxica ou com qualquer outra dificuldade de aprendizagem escolar será um "gênio" ou um artista brilhante. Mas certamente ela poderá ter maior facilidade em outros tipos de atividade.
A dislexia:
- é sempre de fundo orgânico e pode se somar a questões ambientais
-  aponta para certa dificuldade de localização espacial, certa lentidão na motricidade, dificuldade de sequência e problemas com a lateralidade
- por vezes leva a confundir cores (não é o caso de Ishaan)
- pode se caracterizar pela inversão (espelhamento) de letras, mas nem sempre
        Ao final do nosso debate, pensamos no papel do professor e na dinâmica escolar atual frente à dislexia.
        A atenção flutuante das crianças e jovens que são capazes de fazer várias atividades ao mesmo tempo está sendo estudada e não se sabe ainda se é efetivamente uma vantagem, uma vez que há indícios de que essa atenção se divide superficialmente entre várias coisas mas não se aprofunda.
        Embora o professor atualmente busque se renovar ao longo de sua prática, não será possível dar conta de tudo: de estar em sintonia com as novas tecnologias, de desenvolver atividades de ensino cada vez mais inusitadas para manter a atenção do aluno, nessa supervalorização do novo, da novidade. No entanto continua sendo sua função desenvolver o pensamento crítico, a habilidade de argumentar e de levar o aluno ser no mundo.







Grupo de discussão:
Alcione Marques - Instituto Sedes Sapientiae
Cristina Maria Souza Monteiro - UNIP
Jandira P. C. Melo - Instituto Sedes Sapientiae
Maria Paula Parisi Lauria - Instituto Sedes Sapientiae
Vera Inez Nunes Vianna - Instituto Sedes Sapientiae
Mediação: Ms. Elisa Maria Pitombo - Instituto Sedes Sapientiae