segunda-feira, 18 de junho de 2012

A culpa é do Fidel

Dia 18/8, as 16 horas, o Desenrolando a Fita discutiu o filme "A culpa é do Fidel!".


Diretor: Julie Gavras
Elenco: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet, Martine Chevallier, Olivier Perrier, Marie Kremer
Produção: Sylvie Danton
Roteiro: Julie Gavras, Domitilla Calamai, Arnaud Cathrine
Fotografia: Nathalie Durand
Trilha Sonora: Armand Amar
Duração: 99 min.
Ano: 2006
País: Itália/ França
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Gaumont / Canal+
Classificação: 14 anos


Anna, uma menina de 9 anos, é filha de um advogado espanhol e de uma jornalista francesa que não conseguem  ficar à parte da efervescência política na Paris do início dos anos 1970. Antes acomodados ao status quo de sua privilegiada condição social, os pais de Anna renunciam de alguns “luxos” e passam a participar de movimentos em prol do governo Allende, no Chile, o que transforma o agora apertado apartamento da família em um verdadeiro quartel general de militantes socialistas.

Em função dessa nova tomada de posição de seus pais diante dos valores que antes defendiam, a menina fica dividida entre a tradição (representada por seus avós, por sua escola católica, pela antiga empregada que cuidava dela e de seu irmão menor) e um mundo totalmente novo que se apresenta ao seu redor, cheio de situações que ela não compreende bem, pois fica apartada do processo que levou a esse novo quadro.

Questionadora, porém, começa a investigar, ouvindo conversas, pensando tudo à sua volta: as atitudes dos pais, as conversas com as várias babás que vão passando pela família, as próprias descobertas e experiências vão levando  a menina a montar o quebra-cabeça em que se transformou sua vida burguesa, agora virada de pernas para o ar.

Seu universo infantil vai se transformando e, aos poucos, de sujeito excluído, pois seus pais não atendiam a contento seus questionamentos, Anna começa a pertencer, se apropriando de conceitos ouvidos nas reuniões dos socialistas em sua casa (espírito de grupo, aborto, preconceito e solidariedade).

É curioso como o filme mostra uma polarização do processo vivido naquela época: ou se é uma coisa ou outra, ou se é católico ou se é socialista, ou se é rico ou se é pobre. Não há espaço para  as muitas nuances envolvidas nas novas situações. Mas Anna, inteligente, busca respostas, presta atenção, observa a movimentação dos adultos, constrói-se  enquanto sujeito. E assim o universo adulto começa a ser desvendado. As peças do quebra-cabeça vão se encaixando e já não é mais uma criança excluída, mas começa a se sentir pertencente às conversas que agora habitam seu universo.

    
O filme apresenta uma reflexão psicopedagógica interessante sobre o lugar do conhecimento cotidiano familiar para uma criança, pois é recheado de colocações políticas e valores típicos de uma era de mudança de paradigmas: aborto, papel da mulher, evolucionismo, religião. A personagem lê as situações conforme as suas posssibilidades de conhecimento. E os adultos ora   subestimam   sua compreensão infantil ora a consideram capaz de compreender as situações segundo o código adulto. E as questões pululam a cabeça e o coração de Anna... solidariedade...aborto...criação do mundo... barbudos...divisão de bens... Mas no final triunfa a sua capacidade de pensar e opinar com autonomia, não perdendo a chance de se colocar, em sua antiga escola, a favor da liberdade.