quarta-feira, 5 de dezembro de 2012





Título original: Phoebe in Wonderland
Duração: 95 minutos (1 hora e 35 minutos)
Gênero: Drama
Direção: Daniel Barnz
Ano: 2009
País de origem: EUA

Nesse belo filme, a família de Phoebe parece perdida com relação a ela, mostrando-se desinformada e alheia aos problemas da filha. É justamente ela que assinala que precisa de ajuda, pois não sabe como lidar com seus impulsos. No entanto, todas as situações são trazidas de uma maneira bastante humana, ou seja, com acertos e erros.
Quando o terapeuta psiquiatra trata a menina e identifica a síndrome, a mãe, não suportando essa informação, retira Phoebe da terapia. O casal fica em desacordo nas questões familiares, realmente confusos em relação ao que poderia estar acontecendo com a filha. Ambos preocupados com suas carreiras, mas ainda assim amorosos, tentam compreender o que acontece e tentam ajudá-la sem muitos recursos, pois há um descompasso da família em algumas questões que não ficam bem esclarecidas no filme. O pai se distancia um pouco por conta de seus compromissos acadêmicos.
É interessante notar como as crianças nessa película são cientes de seus papeis e angústias. Desde o melhor amigo de Phoebe, que deseja interpretar na peça teatral da escola um personagem feminino, até sua irmã que expõe seu desconforto em relação a ela, são crianças que refletem como espelhos seus sentimentos. Apenas Phoebe expõe seu lado afetivo de modo compulsivo e confuso...
Na trama do filme, delicadamente tecido sobre a história do livro de Lewis Carol, Phoebe passeia entre a realidade e a fantasia de Alice. No entanto, a fantasia começa a solapar a sua realidade e os gestos repetitivos e inadequados intensificam-se, como por exemplo o gesto de cuspir.
Mas havia um ambiente onde de fato Phoebe sentia-se bem, no teatro, desempenhando o papel de Alice. Foi apoiada pela professora, que na visão psicopedagógica, permitiu à menina uma autonomia para compor os personagens e a peça. Esse ambiente afetivo e de confiança auxilia posteriormente a sua inserção no mundo escolar, já ciente de sua situação psicológica. No entanto, a professora também apresenta um comportamento questionável, uma vez que coloca a menina em risco de vida quando permite sua subida ao ponto mais alto do teatro.
O filme mostra o lado humano dos pais, a mãe envolvida num trabalho no qual expõe a filha que mergulha de cabeça na fantasia de Alice e passa então a sonhar e viver segundo a própria personagem da história. Quando surge a oportunidade de participar da peça de teatro na escola, Phoebe já transita entre fantasia e realidade e acaba incorporando a Alice da peça.
Começa a delirar quando vê e fala com os personagens, que são as pessoas de seu convívio transformadas em personagens da história de Alice no País das Maravilhas. No início, aparentemente a menina não demonstra possuir uma patologia, pois existe muita fantasia em casa e na escola.
A escola é inadequada, não acolhe a menina questionadora e curiosa, sensível ao mundo ao redor, confusa entre realidade e fantasia, acabando por se entregar a esta última quando a realidade passa a ser insuportável.
A pior doença acaba por ser a ignorância. O conhecimento traz esclarecimentos, luz onde havia confusão e dúvidas, negação e muita dor.
A patologia da menina estava encoberta no circulo familiar. À medida em que ela descobre o teatro, tudo vai se descortinando, a doença e o caminho para a resolução. A arte abre a possibilidade de Phoebe expressar-se de outra forma e nela encontra um caminho de libertar-se.

terça-feira, 6 de novembro de 2012



A Menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland)

O que acontece com Phoebe?
Ela mistura realidade e fantasia para lidar com suas angústias. Os pequenos rituais comuns da infância, com os quais as crianças brincam, vão assumindo proporções dolorosas quando esta menina de 9 anos passa a achar que suas ações podem mudar a realidade a sua volta. 
O filme traz a dificuldade dos pais e da escola para lidar com situações inesperadas vividas pelas crianças - e o papel libertador que a arte pode assumir na educação.

É sábado, 10 de novembro, as 16:30!

Confirmem sua presença!


segunda-feira, 18 de junho de 2012

A culpa é do Fidel

Dia 18/8, as 16 horas, o Desenrolando a Fita discutiu o filme "A culpa é do Fidel!".


Diretor: Julie Gavras
Elenco: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet, Martine Chevallier, Olivier Perrier, Marie Kremer
Produção: Sylvie Danton
Roteiro: Julie Gavras, Domitilla Calamai, Arnaud Cathrine
Fotografia: Nathalie Durand
Trilha Sonora: Armand Amar
Duração: 99 min.
Ano: 2006
País: Itália/ França
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Gaumont / Canal+
Classificação: 14 anos


Anna, uma menina de 9 anos, é filha de um advogado espanhol e de uma jornalista francesa que não conseguem  ficar à parte da efervescência política na Paris do início dos anos 1970. Antes acomodados ao status quo de sua privilegiada condição social, os pais de Anna renunciam de alguns “luxos” e passam a participar de movimentos em prol do governo Allende, no Chile, o que transforma o agora apertado apartamento da família em um verdadeiro quartel general de militantes socialistas.

Em função dessa nova tomada de posição de seus pais diante dos valores que antes defendiam, a menina fica dividida entre a tradição (representada por seus avós, por sua escola católica, pela antiga empregada que cuidava dela e de seu irmão menor) e um mundo totalmente novo que se apresenta ao seu redor, cheio de situações que ela não compreende bem, pois fica apartada do processo que levou a esse novo quadro.

Questionadora, porém, começa a investigar, ouvindo conversas, pensando tudo à sua volta: as atitudes dos pais, as conversas com as várias babás que vão passando pela família, as próprias descobertas e experiências vão levando  a menina a montar o quebra-cabeça em que se transformou sua vida burguesa, agora virada de pernas para o ar.

Seu universo infantil vai se transformando e, aos poucos, de sujeito excluído, pois seus pais não atendiam a contento seus questionamentos, Anna começa a pertencer, se apropriando de conceitos ouvidos nas reuniões dos socialistas em sua casa (espírito de grupo, aborto, preconceito e solidariedade).

É curioso como o filme mostra uma polarização do processo vivido naquela época: ou se é uma coisa ou outra, ou se é católico ou se é socialista, ou se é rico ou se é pobre. Não há espaço para  as muitas nuances envolvidas nas novas situações. Mas Anna, inteligente, busca respostas, presta atenção, observa a movimentação dos adultos, constrói-se  enquanto sujeito. E assim o universo adulto começa a ser desvendado. As peças do quebra-cabeça vão se encaixando e já não é mais uma criança excluída, mas começa a se sentir pertencente às conversas que agora habitam seu universo.

    
O filme apresenta uma reflexão psicopedagógica interessante sobre o lugar do conhecimento cotidiano familiar para uma criança, pois é recheado de colocações políticas e valores típicos de uma era de mudança de paradigmas: aborto, papel da mulher, evolucionismo, religião. A personagem lê as situações conforme as suas posssibilidades de conhecimento. E os adultos ora   subestimam   sua compreensão infantil ora a consideram capaz de compreender as situações segundo o código adulto. E as questões pululam a cabeça e o coração de Anna... solidariedade...aborto...criação do mundo... barbudos...divisão de bens... Mas no final triunfa a sua capacidade de pensar e opinar com autonomia, não perdendo a chance de se colocar, em sua antiga escola, a favor da liberdade.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Enredos e reflexões - Um ano do Desenrolando a Fita!

Pela primeira vez reunimos nosso grupo e convidados para celebrar um ano do Desenrolando a Fita. 
No Sedes Sapientiae assistimos juntas ao filme Minhas tardes com Margueritte.



Que gostoso compartilharmos nossas emoções! Algumas de nós já tinham assistido ao filme e ainda assim nos emocionamos até às lágrimas. A abertura foi feita pela coordenadora e idealizadora do grupo, a profa. Elisa Pitombo.





 Estava friozinho mas o café e a alegria de estarmos juntas nos aqueceu - além dos petit fours!




A profa. Beatriz Stucchi também se juntou ao grupo de discussões.




  Obrigada aos que colaboraram e estiveram presentes. 
Parabéns, Desenrolando a Fita! 


terça-feira, 24 de abril de 2012

Preciosa




 
Título original: Precious
Diretor: Lee Daniels
Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique, Paula Patton, Mariah Carey, Lenny Kravitz.
Duração: 110 min.
Ano: 2009
País: EUA
Gênero: Drama

Nossa discussão começou com a fala da Elisa: “Nossa, acho que carregaram na tinta! É muita desgraça para uma pessoa só!” Assim é Preciosa, uma história de esperança (EUA, 2099), um filme impactante sobre uma adolescente que enfrenta enormes dificuldades, numa vida recheada de tragédias.

Preciosa vive com a mãe no Harlem, subúrbio de Nova Iorque, num pequeno apartamento escuro e pobre. É negra, obesa, foi abusada pelo pai, de quem teve uma filha com Síndrome de Down que é criada pela avó, e está grávida dele novamente.

A mãe é de uma crueldade que fez algumas de nós ter de parar para respirar durante o filme. Acusa a filha de ter feito “seu homem” ir embora, usa de violência física e psicológica com constantes xingamentos e depreciações, obriga Preciosa a fazer todos os afazeres domésticos, incluindo a comida, que deve ingerir em grandes quantidades para que fique cada vez mais obesa. Permitiu o abuso da filha pelo pai em prol de sua própria conveniência e considera que toda a família deve ficar com ela para que possa tirar partido dos benefícios sociais dessa proximidade.

No início, a adolescente fala pouco e suas feições são carregadas. Ela não tem voz como pessoa. Mesmo com a oposição da mãe, ela frequenta a escola, onde fica alheia e não consegue ler ou escrever. Preciosa se refugia em suas pequenas fantasias onde se imagina com um namorado branco e bonito, vive num mundo de glamour e se vê amada. Talvez tenha sido esse o caminho para que ela mantivesse sua sanidade.

Quando percebe que Preciosa está grávida novamente, a diretora da escola regular recomenda que ela procure uma escola alternativa. E a alternativa vem cheia de significados – “alter” é outro e é a partir do olhar do outro que Preciosa passa a existir. As relações que pode estabelecer com a professora e com os colegas fazem com que possa se reconhecer. A nova escola é um ambiente que dá possibilidades e oportunidades, um ambiente “suficientemente bom”.

Pensamos na importância dessa professora e o quanto ela age psicopedagogicamente. Dá voz aos alunos, todos eles com problemas de comportamento e de aprendizagem. Quando Preciosa diz à professora que não sabe nada, essa retruca: “Todo mundo sabe alguma coisa”. Preciosa, certo dia, responde à pergunta da professora: “Onde você está?” e então pode dizer: “Estou aqui, estou existindo aqui hoje”.

No começo as letras e as palavras para ela são indistintas: “Para mim o que está escrito é tudo igual”. Num processo em que vai diferenciando as letras e as palavras ela pode também se perceber, nomear seus conflitos,  refletindo sobre eles e externando sua dor. A linguagem, como afirmou Vygostky, organiza o pensamento.

Preciosa passa a trocar um diário com a professora, a ter um interlocutor que possibilita que ela assuma sua autoria de pensamento. Descobre o prazer de conhecer e por meio da aprendizagem consegue romper com o ciclo de violência onde está imersa. Reflete sobre suas possibilidades e faz escolhas, escolhas vinculadas aos seus valores e crenças.

Embora o desenrolar dramático da história não tenha conduzido exatamente ao que se pode chamar de “final feliz”, sentimo-nos, de certa maneira, como sugere o título do filme: cheias de esperança. A esperança de que sempre haverá uma saída onde houver um olhar que reconheça o outro, um olhar que permita o encontro, onde se possa SER.